Sabino Fidélis de Moura (*)
Há que se fazer justiça!
Em uma cidade do interior os causos, os contos, as invenções e os boatos acontecem em profusão e, terminam assumindo um papel majoritário — até mesmo, sobressaindo-se sobre a verdade.
Triste de quem a maldade alheia o atingir!
‘Mistérios da Meia-Noite
Que voam longe
Que você nunca
Não sabe nunca
Se vão se ficam
Quem vai quem foi...’
Desde muito pequeno sempre ouvi repetidas vezes a estória, o boato de que existia um Lobisomem em Anadia.
E ainda reverberando a minha ida ao Colégio São Matheus — fato este, que mais uma vez quero dizer da minha alegria e gratidão a direção do Colégio, professores e aos alunos.
O Cauê, um dos alunos sem papas na língua, tascou a pergunta: ‘É verdade que existe lobisomem em Anadia?’
Anadia vivia um tempo romântico — aonde fôssemos éramos notados, reconhecidos — todo mundo se conhecia.
Seu Tunino, era funcionário dos Correios, com uma árdua tarefa de entregar as correspondências — além de receber em código morse as notícias que se transformavam em telegramas.
Também tinha a importante tarefa de acionar o motor da luz de Anadia, todos os dias, religiosamente, ascendendo às 6 horas da noite e apagando às 10 da noite — quer chovesse ou fizesse sol.
Com uma inteligência que sobressaía sobre os demais — talvez, por saber falar outras línguas, ser rápido, ágil e serelepe se movimentava com facilidade — era possível ver o seu Tunino, em um lugar e de repente em outro…
Acrescente-se o fato de ser negro, com cabelos compridos e desalinhados, sobrancelhas grandes, unhas compridas e uma característica marcante.
Era enigmático!
Caía como um luva todo esse contexto para os boateiros de plantão saírem em alto e bom som a bradar: ‘O seu Tunino foi visto na Tapera à meia noite e, logo após apareceu um Lobisomem na estrada que vai para a Lagoa Funda.’
E assim seguia-se o roteiro do boato das aparições do Lobisomem de Anadia. O porquê de recontar e trazer a tela o seu Tunino?
Primeiro que na minha visita ao colégio São Matheus o jovem Cauê me fez a pergunta, mas diante de tantas terminei não sendo conclusivo na minha resposta.
O segundo motivo é o fato de se fazer justiça — a uma das personagens, marcantes na história de Anadia. Tanto por sua presteza, sua dedicação e voluntariedade.
Seu Tunino é de certeza um cidadão entre os que contribuíram para a formatação do nosso ricos imaginário popular. Talvez injustiçado, incompreendido — e só listado de forma bisonha.
Nada como a verdadeira história, para corrigir e devolver — a ‘César o que é de César.’
A minha paixão por Anadia — me impulsiona, faz bater forte o meu coração.
Viva Anadia em seus 222 anos!
(*) É filho de Anadia